27 anos

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No passado dia 9 de fevereiro, celebrei 27 anos de início de carreira, já que foi nessa data, no muito distante 1995, que chegaram ao Zoo de Lisboa dois lindíssimos tubarões-touro (Carcharias taurus), que aí permaneceram até final de julho, como atracção principal da exposição temporária Baleias, Tubarões e Companhia.

Sou o primeiro a admitir que, na altura, o meu plano era enveredar por uma carreira em investigação, até porque já tinha dado os meus primeiros passos no, então, IPIMAR, onde estudava a idade e crescimento do pequeno tubarão Leitão (Galeus melastomus). Contudo, a aventura no Zoo permitiu-me conhecer o grande Mark Smith, um australiano com um coração tão grande como os mais de 2 metros de altura e o 48 que calçava, um número que não esqueço porque bem nos vimos à rasca para encontrar uns sapatos para este amigo, que tinha ensopado as suas botas durante a viagem com os tubarões, desde a África do Sul até Lisboa.

Durante a estadia dos bicharocos em Lisboa, para além de tomar conta deles de forma diligente, sem tirar uma única folga entre fevereiro e julho, contei com a ajuda do jovem estudante de Biologia Pedro Niny Duarte, que nos deixou cedo demais. Apesar de o trabalho ser deveras rotineiro e consistir preferencialmente em monitorizar os parâmetros da qualidade de água e alimentar os animais, com mudanças de água ocasionais quando a amónia se descontrolava um pouco, ia-me dedicando à recolha diária dos dentes dos bichos, que perdiam diariamente e se acumulavam no fundo do aquário. O registo dessa perda diária de dentes deu origem a um dos meus primeiros artigos científicos e permitiu-me constatar que havia uma carreira de investigação dentro do fabuloso mundo dos aquários.

Aproximadamente um ano depois o Mark Smith tornava-se director técnico do grande Oceanário de Lisboa, então em construção, e telefonou-me a perguntar se eu não queria ir tomar conta do Tanque Central do Oceanário e ajudar na aquisição dos mais de 5.000 animais, uma pergunta que levei aproximadamente 0.0000001 micro-segundos a responder e que me lançou numa viagem maravilhosa, que já me permitiu contar muitas, mas mesmo muitas, histórias, bem como escrever umas belas dúzias de outros artigos científicos, que poderão consultar na página Literature do website da Flying Sharks.

Arranquei com a Flying Sharks em 2006, numa altura em que a colecção viva do Oceanário estava tão incrivelmente estável que as minhas funções já estavam cada vez mais viradas para o Departamento de Marketing e manutenção do website e Gift Shop, para além de ter começado a dar aulas de Biologia Marinha na maravilhosa Escola Superior de Tecnologia do Mar, em Peniche, um ano antes. Mas, mais uma vez, o bichinho da investigação continuou lá, como se pode ver na página de Literature, da qual destaco:

  • O recente relatório sobre o estado dos tubarões e raias em Portugal, cuja revisão técnica esteve a cargo deste vosso criado. Esta publicação brilhante, patrocinada pela Oceano Azul Foundation, traça um quadro realista e actual do estado de conservação deste importante recurso em águas portuguesas. São publicações como esta que têm permitido um lobbying cada vez mais bem sucedido junto de múltiplos organismos decisores e que tem atingido resultados tão satisfatórios como, por exemplo, a recente protecção dos tubarões-anequins (Isurus oxyrinchus) ou mesmo a angariação de 1.200.000 assinaturas na Iniciativa de Cidadãos Stop Finning! Stop the Trade!, que visa acabar com o tráfego de barbatanas de tubarão na União Europeia.
  • O capítulo Marine Animals and Human Care Toward Effective Conservation of the Marine Environment na publicação Life Below Water. Encyclopedia of the UN Sustainable Development Goals e que é dedicado ao papel das instituições zoológicas na conservação do ambiente marinho.
  • O nosso mais recente artigo, dedicado aos últimos 4 anos de transportes da Flying Sharks, que incluíram alguns dos desafios mais difíceis destes 27 anos maravilhosos.

Resta-me agradecer a generosidade de uma imensidão de pessoas e instituções que, ao longo destes magníficos 27 anos, me têm permitido encher muitas páginas e palcos de memórias maravilhosas e que têm inundado a minha Inbox de comentários tão maravilhosos como estes deliciosos anos, que superaram largamente os meus desejos mais selvagens, quando entrei na Universidade do Algarve pela primeira vez, em 15 de outubro de 1990.

A tod@s, obrigado.

🙂

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