A sorte dá muito trabalho
O dia 1 de agosto de 1997 foi o meu primeiro dia no Oceanário de Lisboa.
Saí do IPMA, onde fazia investigação com tubarões (mortos) e ganhava 200 contos com recibos verdes, para ir trabalhar com tubarões vivos por metade desse valor.
Como estava no IPMA há três anos, ia entrar para o quadro, com todas as regalias que isso implica. A família achou que deixar a segurança do ‘Estado’ não era uma grande ideia, mas lá fui eu, na minha teimosia dos 25 anos.
Três meses depois passei à categoria de ‘Biólogo’, por ter passado o período experimental, e o ordenado praticamente duplicou.
Três meses depois passei à categoria de ‘Supervisor do Tanque Central’ e o valor quase que duplicou novamente.
Um ano depois passei a ‘Curador da Colecção’, com nova (quase) duplicação.
Tendo em conta as viagens, conferências, o prestígio do logotipo no cartão de visita, os convites para ir falar de tubarões (e da minha carreira) a escolas, e muitos outros perks simpáticos da minha posição, ouvia com frequência que “tive muita sorte”.
E tive.
Contudo, passar três meses em Olhão a acordar às 4 da manhã de segunda a Sábado e só ver a minha mulher uma noite por semana, após uma viagem de 600 quilómetros na estrada nacional, talvez tenha dado um empurrãozinho a essa sorte.
Engodar as águas invernosas do Algarve com o conteúdo estomacal do meu pequeno-almoço (quase) todos os dias, enquanto apanhava cavalas, sargos, douradas, corvinas, carapaus e sarrajões para o Oceanário, sem nunca desistir, também terá dado uma ajudita.
Entrar no Oceanário antes do sol nascer e sair depois de se pôr, até ao dia da abertura, 22 de maio de 98, não parando um segundo durante as 12-14-16 horas de trabalho diárias durantes os meses que precederam a abertura, também terá tido alguma contribuição.
Viajar pelo mundo inteiro para construir tanques e transportar tubarões, raias e outros peixes para Lisboa, ficando semanas seguidas sem ver a minha mulher, também fez parte dessa “sorte”.
Porque, ao fim e ao cabo, tudo se resume a isso.
Ter sorte.
E só sorte.
Certo?
Já imaginou toda esta experiência a inspirar os seus colaboradores? É possível.
Mande-me um email.