A primeira semana de escola do Nikola
A primeira semana de escola do Nikola não foi nada fácil. Os meninos do primeiro ano já estavam na mesma turma desde a pré-primária e não acolheram o recém-chegado de braços abertos. Ainda por cima o dito prefere estar num canto a ler – sim, já lê desde os 5 anos – do que estar na brincadeira com os outros. E, quando lhes pediram para colocar perguntas que gostavam de ver respondidas, ele questionou “Porque é que não há gravidade no espaço?”.
Esperar-se-ia que estas idiossincrasias o tornam-se popular, mas, muito pelo contrário, foi frequente vê-lo sozinho numa mesa da sala do 1º ano, enquanto os colegas se divertiam nas outras.
É um aperto no coração muito doloroso, vermos o nosso pequenino ser excluído, mas, quem já me conhece, sabe que não me rendo.
Se os outros meninos jogam à bola e o Nikola tem dois pés esquerdos, vamos lá comprar uma bola e ensinar o rapaz a jogar, uns minutos todas as noites.
Se ele não nasceu para o desenho, vamos lá incentivá-lo diariamente a fazer umas linhas sobre as nossas.
Escusado será dizer que estas preocupações incluíram as professoras da escola, que já tinham notado que o nosso Booboo é especial e já estavam a dar passos no sentido de o melhor integrar na turma, pedindo ajuda a algumas das crianças mais empáticas. Porque, convenhamos, há almas que, mesmo com seis anos, desconhecem o conceito de empatia.
Parece-nos que dar um boost na confiança da cria marca pontos positivos, por isso fomos experimentar o Judo e adorámos o Mestre Bruno, um jovem brasileiro jovial, contrastando frontalmente com o tom ríspido e militar de outros instrutores que espreitámos antes e dos quais fugimos a sete pés.
Assim é na vida, no amor, no trabalho, nas relações e nas complexidades do dia a dia.
Um dia está tudo bem e, no dia seguinte, temos um valente petisco entre mãos. Daqueles que não podem mesmo ser ignorados, porque o bem-estar emocional de alguém muito especial está em jogo.
Quando se trata do sangue do nosso sangue, então, não há pedra que não seja revirada e solução que não seja testada. Os problemas não são para ser ignorados ou carregados, como uma mochila cheia de pedras. São para ser resolvidos. Ponto.

