Polska Madness 2.0

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Quando regressámos da primeira entrega em Gdynia, na viagem de 14 a 18 de março, a prioridade absoluta foi assegurar que o camião TIR que efectuaria a segunda entrega chegaria bem atestado a Gdynia antes de dia 19 de abril, data da inauguração da nova área de exposição do aquário da cidade polaca. Mais de metade dos animais já estavam assegurados dos Açores, Peniche e Tunipex, mas sobre este último fornecimento pendia a violentíssima dúvida quanto à data em que a rede da armação estaria disponível para capturar peixes. Um telefonema com o capitão Alfredo revelou que tal iria ocorrer no final de março, com o primeiro dia de pesca marcado para a segunda-feira, 8 de abril.

Uns dias mais tarde voltei a ligar ao Alfredo, com o objectivo de lhe implorar que desse início à pesca o mais rápido possível, e fui surpreendido pela excelente notícia de que a rede estava na água e o primeiro dia de pesca seria a quinta-feira anterior, 4 de abril. Isso significava que o dia de partida podia ser marcado para precisamente uma semana depois, dia 11, o que nos colocaria em Gdynia no dia 17, apenas dois dias antes da abertura da nova exposição, dia 19.

Note-se que essa data já tinha sofrido um adiamento de duas semanas, porventura quando expliquei ao Marcin, curador do aquário, que só conseguiria peixes da Tunipex no início de abril e não no final de março. Se não fosse esse adiamento providencial, estaríamos metidos numa bela embrulhada, porque o contrato ditava que os bichos tinham de ser entregues antes da abertura da exposição. Por outro lado, o dito contrato não tinha a data de abertura da exposição, um pormenor que não me escapou e que guardei no banco das informações importantes.

Entretanto essa excelente notícia do Alfredo foi contrabalançada pela má notícia da Patricia Campos, antiga curadora do aquário Poema del Mar, na Gran Canaria, que tinha um lote impressionante de tubarões e raias nas Canárias e que deveriam seguir para Cádiz no mesmo dia 4 de abril, sendo descarregados no nosso armazém em Peniche no dia 7 de abril. Contudo, uma tempestade furiosa assolou a região macaronésia e o embarque desses animais foi adiado uma semana. Teriam, assim, de sair das Canárias no dia 11 e chegar a Cádiz no dia 12, ficando acordado que nos encontraríamos com o camião no aquário de Sevilha, já a caminho da Polónia.

O Marcin não estava particularmente agradado com todos estes atrasos, mas os bichos chegariam ao aquário dois dias antes da inauguração e nada mais importava.

Durante toda esta novela, persistia uma preocupação gigante, que era o tamanho dos cações Mustelus mustelus pesados pela Patricia, cujos pesos oscilavam entre 8 e 15 quilos, o que nos colocava um disparate de biomassa no lombo – e nos tanques de transporte. Os cálculos que efectuámos davam valores bem acima dos 20 quilos por metro cúbico, o nosso limite psicológico, pelo que comecei a ponderar vários cenários, incluindo a contratação do camião de transporte de peixes que viria das Canárias com os animais da Patricia e que poderia seguir o nosso até à Polónia. Pois claro que isso custaria uma pipa de massa, mas iria assegurar a chegada em condições da bicharada, que era de longe o mais importante.

Contudo, quando coloquei este cenário à Patricia, respondeu-me pouco depois que o camião não estava disponível, o que me voltou a atirar para um mar de preocupação e ansiedade que culminou num episódio embaraçoso na quarta-feira 3 de abril. Estava eu a caminho de Peniche quando, pelas 8 e meia, mais coisa menos coisa, me aproximava da Lourinhã. Um semáforo na estrada condicionava o trânsito por causa de umas obras, que forçavam apenas uma fila passar de cada vez. Aproveitei o vermelho para enviar um áudio, pelo telefone, ao nosso grupo whatsapp TechAquarium, que também me trazia dores de cabeça pontuais. E foi precisamente quando comecei a gravar o áudio que a minha barriga deu uma pontada violenta, sinalizando a urgência em encontrar uma casa de banho rapidamente. Aguardei pacientemente pela passagem da luz a verde e acelerei até um café que fica uns quilómetros à frente, onde já tinha feito paragem similar uns anos antes.

Pois claro que o trajecto até ao café foi doloroso, já com suores frios nos braços e tremores nas pernas, tal era a urgência da situação, que implorava por resolução rápida. Esta não era a primeira vez que experimentava uma crise desta natureza, mas já se tinham passados largos anos desde que tinha enfrentado uma de gravidade equivalente. Foi então que vislumbrei o café lá ao fundo e atirei com o carro para o parque de estacionamento, subindo a rampa que dava acesso à entrada em passo estugado, mas controlado. Porque nunca se sabe.

Pedia eu educadamente ao senhor “Posso usar a sua casa de banho?” quando senti que algo se escapava do meu controlo, rezando eu fervorosamente que fosse apenas de natureza gasosa. Infelizmente, não foi.

Essa constatação cruel obrigou-me a despender algum tempo na manutenção necessária quando ocorre um acidente desta natureza, o meu primeiro em 51 anos de vida.

Remediei a situação o melhor que pude em dez minutos, prosseguindo para a Sala de Informática 5 da escola em Peniche, onde dei um exercício relativamente simples sobre estimativa do nível máximo de pesca sustentável aos meus alunos de Gestão de Recursos Marinhos. Aproveitei o facto de a aula ser fácil para me escapulir uns minutos antes desta acabar e aproveitar o pequeno intervalo entre duas aulas para adquirir um par de calças na MO, onde a cadeia Continente oferece roupa barata. Inicialmente fiquei irritado com as calças apertadinhas que experimentei e que me ficavam acima dos tornozelos, mas as meninas da entrada lá me esclareceram que era um modelo de senhora e passaram-me uma opção mais masculina.

Ainda levei algum tempo a acertar no corte, porque só me davam opções apertadinhas e demasiado justas, ou porventura eu ter-me-ia tornado demasiado volumoso com o tempo. Durante este processo de tentativa e erro apreciei o facto de que as calças que usava não exibiam provas do incidente matinal, o que até me levou a ponderar a necessidade de aquisição do novo vestuário. Contudo, uma vez que ali estava e já tinha perdido o tempo de lá chegar, achei por bem aproveitar o preço simpático de 19 euros e 99 cêntimos, saindo de lá com um par de calças novinho, mas idêntico ao que usei nessa manhã porque, afinal de contas, não queria que a estudantada se apercebesse do meu pequeno percalço.

A ansiedade dessa manhã foi aliviada por um almoço rápido com o Nuno e David, durante o qual debatemos a distribuição dos peixes nos seis tanques que iríamos levar no camião, tornando-se claro que a dimensão excessiva dos cações da Patricia iriam ser um problema. E grave.

Contudo, a minha tradicional boa fortuna veio em nosso auxílio no domingo, dia 7 de abril, quando um telefonema com a Patricia me tranquilizou com a abundância de galhudos, Squalus acanthias (um outro tipo de tubarãozito pequeno), que tinha capturado recentemente, todos com menos de um quilo! Ah, que felicidade suprema!! Rapidamente indiquei que ficaria com apenas os dois Mustelus mais pequenos de todos (com peso a rondar os 5 quilos) e levaria para a Polónia nada menos do que uma dezena de Squalus. Ao juntarmos essa dúzia de animais aos dois Mustelus germânicos nascidos no aquário da nossa amiga Nicole e entregues um mês antes, o Marcin ficaria com 14 tubarõezitos no seu tanque, ou seja, mais dois do que a dúzia que pretendia. Nada mau.

Segunda-feira, 8 de abril

Foi, assim, em ambiente muito bem-disposto que o David e Nuno chegaram à minha porta às seis e meia da manhã de dia 8, segunda-feira, para irmos até ao Algarve fazer umas mergulhaças com o Miguel, um novo parceiro que parecia muito promissor. O Nuno tinha conhecido recentemente um jovem recém-licenciado em Biologia Marinha que estava sedento de oportunidades que lhe permitissem demonstrar os seus dotes, pelo que acompanhar a Flying Sharks na sua missão de atestar aquários – de boa reputação – com peixes lusitanos, lhe agradou de imediato.

O diabo é que a meteorologia era suposto ser favorável à nossa bela passeata, mas, para além de chover desde o primeiro ao último minuto em que percorremos a autoestrada alentejana, a chuva, vento e frio continuaram no trajecto de barco até ao local do mergulho, onde iríamos apanhar alguns bodiões que se destinavam à Polónia e uns invertebrados altamente especializados, do tipo Parazoanthus, Aiptasia e outras bizarrices, que iriam para a Alemanha. O Nuno atirar-se-ia aos invertebrados complexos, enquanto eu e o David iríamos encher um pequeno bidão de peixes. No lado de fora afixámos uma pequena placa na qual iríamos escrevendo os peixes capturados, para garantir que não regressávamos a terra com excesso de umas espécies e falta de outras.

Escusado será dizer que toda a ansiedade do mau tempo, proximidade da partida para a Polónia e falta de alguns animais tão próximo da data de partida me deixaram no tradicional estado de ansiedade, que se converteu numa expulsão imediata de todo o conteúdo dos meus intestinos no instante em que caí dentro de água… O que vale é que, ao contrário dos meus camaradas profissionais, que envergavam fatos secos e quentinhos, aqui o básico trajava um fato semi-seco, com o qual rapei um frio desgraçado, mas, pelo menos, o mar algarvio entrava – e saía – livremente das minhas vestes de neoprene, lavando lentamente o teor perniciosamente viscoso que me tinha escapado – novamente.

Já terá havido uma altura da minha vida em que a vergonha de tal ocorrência me teria paralisado de embaraço. Aos 51 anos e com tanta aventura no curriculum, ignorei por completo a ocorrência e foquei-me na captura de peixes em água bem geladinha, que me penetrava pelos buracos das luvas e vedante mal aplicado no pescoço. No final do mergulho sinalizei ao nosso dive-master que iria para cima, porque a pressão do ar na garrafa já estava abaixo dos 50 bares e, com 18 metros de água em cima, mandava a prudência que me encaminhasse para a superfície, onde cheguei minutos depois.

Constatei que tinha sido o último a sair da água, o que me agradou porque, apesar dos nervos, o meu consumo de ar continuava mais baixo do que o da média, como me sucede habitualmente, desde que mergulho. Aproximando-me do barco, entreguei a minha garrafa e cinto ao Nuno, pedindo-lhe que abrisse o fecho nos ombros do meu fato. Alertei-o também para a necessidade de desviar o nariz do processo e, sabendo muito bem as preocupações que me afligiam, o jovem entendeu de imediato que o meu incidente de quarta-feira tinha tido repetição naquela manhã algarvia chuvosa. Rapaz prático, lembrou-me da importância de tirar as botas, o que fiz de imediato, permitindo à água entrar e sair livremente da minha fatiota que, esperava eu, estaria razoavelmente limpinha quando chegássemos a terra.

Esse processo, contudo, ainda demorou um pouco porque, apesar de termos tido muito sucesso na captura de peixes e alguns invertebrados, as malvadas Aiptasia teimaram em não aparecer, pelo que o Nuno sugeriu de imediato um segundo mergulho numa área mais próxima de terra e com maior probabilidade de sucesso. A cara do David não escondia que o mar algarvio não tinha caído nas boas graças do seu estômago, principalmente durante o seu período de jejum intermitente, em que o bucho nem sequer oferecia nada para regurgitar quando as convulsões apertavam, processo que bem conheço e intensamente doloroso.

Rumámos, por isso, a terra, até porque eu estava literalmente a tiritar de frio. Contudo, a insistência (legítima) do Nuno perante a possibilidade de regressarmos com o dever cumprido tocou-me no botão da eficiência, pelo que lá parámos no local adequado e, embora eu e o David estivéssemos prostrados perante a visão de nos enfiarmos no mar infernal e geladinho uma segunda vez, o valentão do Nuno lá mandou uma saltada para a água com o jovem dive-master e, minutos depois, regressaram com os bicharocos necessários para fecharmos uma encomenda! Ah, grandes valentes!

Não tardou muito até estarmos em terra, eu com uma mangueira e enxaguar muito bem os meus interiores, antes de me desnudar completamente e verificar que não havia vestígios da minha ansiedade recente, o que me agradou. Seguiu-se o embalamento das duas caixas que tínhamos levado, com a bicheza recentemente adquirida, colocando-se os restantes num aquário do nosso novo amigo Miguel.

Não tardou muito até estarmos a encher o bandulho de franguinho da Guia e Coca Colas Zero bem geladinhas, ao que se seguiu o regresso a Lisboa e entrega das caixas na UPS, uns belos 45 minutos antes da hora limite. Apesar das dificuldades, tinha sido um dia bem produtivo e a conversa no carro tranquilizou todos quanto ao sucesso garantido da operação que se avizinhava, o que me fez entrar em casa de sorriso aberto nos lábios.

Quarta-feira, 10 de abril

Nesse dia almocei com o David em Peniche e, mais uma vez, revimos cuidadosamente o nosso packing-plan para a Polónia, reorganizando alguns tubarões, raias, cavalas e afins entre os vários tanques, garantindo que nenhum ultrapassava o limite de 20 quilos de biomassa por metro cúbico de água. Essa tarefa não foi fácil, mas por um bom motivo, que foi o facto de os nossos amigos da Tunipex terem apanhado os belos 800 carapaus de que precisávamos, apenas três dias antes da partida! Pois claro que transportar animais com tão pouco tempo de estabulação não era ideal, mas chegaríamos aos nossos cinco clientes com tudo aquilo que pediram, o que era uma proeza extraordinária. Logística e financeira.

Quinta-feira, 11 de abril

A quinta-feira, 11 de abril, foi o dia em que o transporte teve início, originalmente transportando vários animais que tínhamos em Peniche até Olhão, depois de vários dias a preparar a galera (refrigerada) de um camião TIR com o apoio de vários estudantes meus, angariados pelo David.

A manhã foi relativamente tranquila, com vários emails e a tradicional torradicha no senhor Zé com a Nina e Nikola. Ao meio-dia e meia arranquei para dar uma única aula em Peniche, um ‘presente’ do horário deste semestre, que me contemplou com nada menos do que onze dias em que tenho de percorrer 200 quilómetros, e gastar três horas, para dar uma única aula. Enfim.

Durante a aula vi uma chamada não atendida da Ana Mendes, da instalação do IPMA de Olhão, onde os nossos peixes eram estabulados. Tomei a nota mental de lhe ligar logo a seguir à aula e fiquei com o sangue gelado quando vi o sms que dizia “Liga-me com urgência”.

“’Tá bonito…” pensei eu, lamentando a audácia de ter-me permitido algum conforto nas 24 horas anteriores, em que finalmente tudo parecia estar controlado.

Respirei fundo antes de carregar na tecla verde e preparei-me para o pior, tomando consciência que o transporte já tinha efectivamente começado, uma vez que o camião com as raias e outros peixes penicheiros já estava a caminho de Olhão. Paralelamente, o camião com os tubarões e raias das Canárias também já estava no mar, a caminho de Cádiz.

A Ana atendeu com a expressão mais temível de todas… “Estás sentado?”

“Conta lá…” disse eu, perguntando logo “…mas diz-me só: temos peixes para enviar amanhã?” “Sim, temos” respondeu ela e respirei de alívio. “Mas…” acrescentou… “Eu já sabia…” pensei eu… “Mas?…” perguntei…

“Os linguados estão com um problema qualquer e já perdemos cinco. Achas que podem ir dos nossos, que têm chip?” “Claro que sim!” respondi eu, agradecendo aos céus pela pequeníssima magnitude do problema! Se fosse só a falta de meia dúzia de linguados, num encomendão de centenas de peixes, estávamos muito bem! “Mas, espera…” disse ela. “Agora é que é…” pensei eu…

“Está tudo bem com as cavalas…” “Ufa!”, pensei… “Mas…” “Ai, ai..” pensei… “…houve aqui um azar com os carapaus…” “F#da-se… tinha de ser…” pensei… “Quantos se perderam?…” e reti a respiração. “Todos.”

E pronto.

Tínhamos as 500 cavalas, os tubarões, as raias, os pequenos bodiões e uma imensidão de outros peixes, mas os 300 carapaus para L’Ocearium du Croisic e 500 para o Aquário de Gdynia, na Polónia, tinham ido ao ar. E foi assim que, de repente, fiquei obrigado a gastar mais uns 25.000 euros para os ir levar aos dois sítios, num transporte posterior. Foi um telefonema bem caro, esse.

Nem ouvi bem o que aconteceu, que foi uma patetice qualquer relacionada com uma válvula de oxigénio… A única pergunta que fiz foi “Achas que se conseguem apanhar mais amanhã de manhã?” “O tempo está mau, mas deixa cá ver.”

Foi com estes pensamentos na mente que malhei mais meia dúzia de emails, depois da aula, antes de ir ter com o Zé Pedro ao armazém 61, onde o encontrei de robalos já embalados e prontos a seguirem viagem para o aeroporto, graças à assistência do pequeno exército de ajudantes que o David tinha recrutado para essa semana. Só me restou agradecer-lhe e conduzir para casa ao som da Prova Oral, com um saquinho de bonequinhos Star Wars que tinha ido buscar à Leonor, minha ex-mulher, uns minutos antes da aula.

A Leonor viveu em minha casa durante uns anos, enquanto eu vivia com a minha segunda mulher. É confuso, bem sei. É o que é. Durante esse período a Leonor montou um Millennium Falcon em Lego que eu comprei numa conferência em Billund, na sede da Legoland, em 2013. Só que, quando se mudou para casa dela e se casou novamente, a malvada levou o Chewbacca, Obi Wan Kenobi, R2-D2, Luke Skywalker, Darth Vader, Han Solo e Princesa Leia. Depois de umas mentiretas ranhosas para fugir com o rabo à seringa, lá consegui que m’os devolvesse e fui para casa, nessa noite, a congeminar um plano.

Assim que entrei no lar enfiei o saquinho com os bonecos, que já tinha prometido ao Nikola, numa gaveta dum móvel na sala. Depois coloquei papéis pela casa toda em estilo ‘Caça do Tesouro’, começando com um desenho no quadro da cozinha, onde normalmente lhe deixo bonecada e beijinhos, antes de cada viagem. O primeiro boneco levava-o à gaveta das cuecas, onde outro papel o levava ao escritório, prateleira do duche, atrás da sanita da casa de banho pequena, e pistas variadas até dar de caras com o saquinho com os tão desejados bonecos, que poderia finalmente usar no Millennium Falcon que a Nina desmontou e eu remontei com o nosso pequeno Booboo.

Seriam oito e picos quando o Zé Pedro me avisou que já tinha deixado os robalos no aeroporto e estava caminho da minha casa. Malhei um belo Whopper vegetariano (mas com queijo) na área serviço de Alcochete e chegámos a Olhão pelas onze da noite, logo após o camião ter chegado e terem introduzido 160 carapaus açorianos, Trachurus picturatus, num tanque extra, o sétimo. Esses bichos destinavam-se ao cliente polaco, e parecia que tinha adivinhado a falta que os carapaus iam constituir…

Entretanto congratulei-me com a genialidade de consolidar cinco entregas num único transporte rodoviário, um belo bico de obra de coordenação e que nem sempre é possível, mas que tinha resultado muito bem desta vez. Seguiu-se o check-in (que já tinha feito online) de sete manos no hotel B & B Olhão, no Ria Shopping, pela meia-noite e meia, e estava apagado na cama, depois de alguns emails, pelas duas.

Sexta-feira, 12 de abril

O pequeno-almoço foi cedo, às 8 da manhã, embora não houvesse muita pressa porque o ferry das Canárias só iria atracar pelas duas da tarde e o camião ainda tinha que ser desalfandegado e conduzir até ao aquário de Sevilha, onde nos queríamos reunir pelas oito da noite. Entretanto o Sérgio Sousa, da transportadora TPO, nosso parceiro habitual, já me tinha indicado que os motoristas só poderiam sair pelas seis da tarde, porque o seu horário assim o ditava. Raios. Teria sido fabuloso aproveitar a chegada do ferry mais cedo, uma vez que estava originalmente marcado para as oito da noite, mas o horário dos motoristas era soberano.

Eu bem queria ouvir ‘O homem que mordeu o cão’ na Comercial, mas não houve oportunidade para tal, porque antes das nove já estava com o Zé a meter água num tanque de transporte, antes de rumar ao nosso amigo Miguel, mergulhador e colaborador recente, no Barlavento algarvio. Não tardou muito até termos os bodiões capturados na segunda-feira anterior carregados no tanque, bem atestado de água, bem como umas raias capturadas por pescadores amigos do Miguel. Ainda parámos na instalação do Ramalhete da Universidade do Algarve, onde apanhámos mais de uma centena de bocas, os caranguejos Uca tangeri, que são muito apreciados pelo nosso cliente, um investigador da University College of London, que faz investigação – imagine-se (!) – sobre inteligência artificial usando os neurónios dos caranguejos algarvios.

Seria meio-dia e meia quando a bicharada estava toda no IPMA, à sombra e de portas abertas, para fomentar corrente de ar, enquanto toda a equipa se alapou em frente a um belo arroz de choco e peixe grelhado no Vista Formosa, a nossa escolha para almoçaradas pré-transporte. Os amigos Sérgio e Suzy Sousa, donos da TPO, ficaram ao meu lado, bem como os motoristas Armando e Mário, o senhor Valeriy, a Marisa, e toda a nossa grande equipa, constituída pelo grande Ivan, que veio dos Açores, David, Zé Pedro, Reis e as recentes adições Miguel e Inês.

De pança bem atestada (tristemente sem o arroz de lingueirão pelo qual suspirava há semanas), só nos restava verificar que todo o equipamento estava em ordem, uma vez que todos os animais estavam carregados e o horário dos motoristas não permitia sair antes das seis. Eu aproveitei essas três horitas para malhar mais uns emails, enquanto o Zé e colegas embalavam os Uca tangeri em duas caixas, bem atestadas de gelo que tinha encomendado à Ana Mendes uns dias antes. O processo parece fácil, mas envolve alguns passos importantes como, por exemplo, a necessidade de garantir que os bicharocos, que são embrulhados tipo rebuçados em paninhos molhados, não tocam directamente no gelo. Isso leva-nos a criar uma espécie de ‘muralhas’ dentro das caixas, que mantêm um ambiente geladinho, mas livre de contacto directo no gelo, ou impacto deste, caso se mova.

Entretanto pedi ao David para dar um salto na toca onde via emails e revimos uma vez mais o packing-plan, que nos parecia muito satisfatório. Não ignorei o facto de o David e Reis terem comentado, ao almoço, que as cavalas eram bem grandes, por isso alterámos o peso estimado delas de 50 para 70 gramas. Os números eram muitíssimo aceitáveis e, como a rapaziada TPO ainda não estava pronta para arrancar às seis da tarde, o que me irritou um bocadinho, eu e o Zé tivemos de arrancar logo para Sevilha, onde íamos apanhar quase uma centena de pequenos Schedophilus ovalis e Kyphosus sectatrix, que tinham chegado das Canárias e sido pedidos por um cliente marroquino. Sabíamos que tínhamos de estar no aeroporto de Lisboa para entregar os Uca não mais tarde do que as 2 da manhã, por isso o relógio não permitia devaneios.

Antes da partida o coração ainda bateu forte porque o tractor do camião teve de ser trocado e, por qualquer motivo, o nosso inversor não estava a trabalhar devidamente. Este equipamento converte os 24 volts do camião em 220 volts que alimentam os nossos potentíssimos filtros. Sem esta máquina o transporte simplesmente não pode ocorrer, pelo que esta perturbação de última hora, depois de três horas a olharmos para o boneco, subiu-me o grau de irritação a um ponto em que tive de me enfiar na carrinha com o Zé, e rumar a Sevilha, antes que explodisse.

Antes de fugir, contudo, ainda consegui perceber que o problema estava na ligação dos nossos cabos ao polo negativo do camião porque, assim que o Zé ligou este ao estrado propriamente dito do tractor, ficou tudo bem. Foi apenas uma questão de arranjar um parafuso suficientemente robusto para prender (muito) bem o nosso cabo à grelha do camião e o inversor pareceu aguentar-se.

A caminho de Sevilha ainda deu para ouvir a Prova Oral na Antena 3, o que teve o condão de me acalmar os nervos. Chegámos à capital andaluza pelas nove e meia da noite (mais uma hora do que em Portugal) e deparámo-nos com um camião de aquacultura onde um dos doze tanques tinha a nossa centena de pequeníssimos Schedophilus e Kyphosus a nadarem livremente. “Isto não vai ser fácil…” pensei eu, mesmo antes de pedir ao camionero para descer o nível da água, que estava surpreendentemente límpida, mesmo após umas 36 horas de viagem.

Com os joelhos completamente rebentados pela textura muito abrasiva da fibra de vidro que cobria o camião, lá tirei os chinelos, carteira e telemóvel dos bolsos dos calções, antes de me enfiar dentro do tanque rectangular, com água pelos joelhos. Tive pena de não haver um registo fotográfico do momento, porque meia Sevilha festejava, cantava e dançava, enquanto eu, Zé e Javi tirávamos peixes de um camião de transporte de pescado entre aquaculturas.

O processo ainda levou uns 45 minutos, mas lá retirámos toda a bicheza que seguiria para Peniche e deixámos um balde com os 10 Schedophilus que o David apanharia, poucos minutos depois, juntamente com as 4 raias Rostroraja alba, 10 pequenos galhudos Squalus acanthias e 2 cações grandotes Mustelus mustelus. Eram dez e meia quando eu e o Zé nos pusemos ao caminho, com o Waze a indicar que chegaríamos a Lisboa quatro horas depois, o que era tranquilo. Mas sabíamos que haveria paragens e não esqueçamos que o ‘meu’ Waze está habituado a andar a 140 e não a 110, que era a velocidade média da nossa carrinha.

Como vem sendo tradição, o jantar consistiu em empadas beirãs e napolitanas de chocolate compradas na área de serviço de Loulé, regadas por um par de Red Bulls. Nada mau para 9,49 euros. Entretanto o Waze ia adicionando minutos à estimativa inicial, mas entrámos no terminal de carga do aeroporto exactamente dez minutos antes das 2, para grande conforto e regozijo do nosso querido transitário da Nippon Express, Nuno Alexandre.

Começámos por gracejar com a originalidade da nossa actividade, que nos forçava a meter caixas em balanças e porta-paletes às duas da manhã de um sábado, quando meia Lisboa estava na loucura da 24 de Julho e afins. Entretanto o coração ainda bateu forte porque as caixas pesavam 37 quilos e não os 25 declarados na documentação já previamente preparada, mas um telefonema para a supervisão da Groundforce amaciou o que poderia ter sido uma grande bronca. “É só mais um serão de sexta-feira na Flying Sharks…” gracejámos, antes de nos despedirmos e eu me meter num táxi para casa, de modo que o Zé pudesse rumar imediatamente a Peniche.

Eram três da manhã quando me enfiei no duche, mas só conseguir ir para a cama às quatro, com toda a adrenalina que me circulava no lombo. Essa mesma adrenalina pôs-me a pé três horas depois, às sete, e ainda bem porque as coisas não estavam a correr muito bem no camião.

Sábado, 13 de abril

Conhecendo o David, sabia que havia m#rda da grossa quando li a mensagem que me tinha enviado apenas uns minutos antes, indicando que a água dos tanques com cavalas estava muito opaca e não lhe inspirava confiança. Os parâmetros da mesma, como o pH, concentração de oxigénio e amónia, estavam óptimos, mas parecia-lhe que algo não estava bem e recomendava uma mudança de água o mais rápido possível. Tendo em conta que estavam perto de Valladolid, disse-lhe para rumarem ao aquário de San Sebastián, pelo que passei as horas seguintes a tentar arranjar um contacto do mesmo, porque a minha amiga Amalia, curadora durante décadas, tinha-se reformado apenas uns meses antes.

Não tardou muito até metade dos nuestros hermanos que melguei nessa manhã de sábado me porem em contacto com o Eneko, aquarista sénior de San Sebastian, que aceitou de imediato o nosso pedido de auxílio e providenciou água para o David, que chegou lá pelo meio-dia, mais coisa menos coisa. Entretanto também tinha entrado em contacto com a Ana, do IPMA, e perguntei-lhe se podia pesar algumas das cavalas que tinham ficado em Olhão. Respondeu-me quase de imediato que tinham pesado algumas perdas e também ela foi surpreendida pelo peso médio invulgarmente elevado dos bichos: 213 gramas.

Três vezes mais elevado do que as 70 gramas que eu e o David tínhamos estimado na véspera. Pois claro que, ao colocar esse valor no nosso Packing-plan, o resultado era catastroficamente elevado, rondando os 50 quilos de biomassa por metro cúbico, um colosso inadmissível para cavalas… Nem sequer enviei esses números ao David, que já tinha sarna suficiente com que se coçar, mas preparei um boneco com algumas setas, que recomendava passar cavalas dos tanques 1 e 4, que tinham a maior concentração, para os 2 e 3, onde viajavam apenas pequenos tubarões e raias. A ideia era dividir o mal pelas aldeias e rezar para que a mudança de água em San Sebastián fizesse diferença.

Entretanto o problema foi partilhado pelo resto da equipa, que entrou imediatamente em acção e, apesar de ser fim de semana e muito cedo, não tardaram a chover recomendações, sendo que manter uma temperatura baixa estava no topo da lista. Foi exactamente isso que se fez e sem dúvida que ajudou a aliviar a situação das cavalas, mas causou outros danos.

Seriam quatro da tarde quando o David e equipa deixaram San Sebastián e rumaram ao L’Ocearium du Croisic, a 677 quilómetros de distância, já com os 919 que separavam San Sebastián de Sevilha, e 187 de Olhão, no bucho.

Domingo, 14 de abril

Chegaram a Croisic pela uma da manhã já de domingo, depois de três horas parados na autoestrada nas imediações de Bordéus. Dada a hora adiantada, o nosso cliente e amigo Stéphane Auffret providenciou uma tomada à qual se puderam ligar, mas recomendou que só se fizessem mudanças de água de manhã, o que sabíamos ser um problema, mas como é que se pede a um cliente que dispa o pijama, à uma da manhã de domingo, e venha dar-nos água quando, ainda por cima, já lhe tinha dito que os únicos carapaus que tinha (os 160 que foram dos Açores) teriam de ficar para o cliente polaco, pelo que o amigo Stéphane ia dar-nos água e luz a troco de… nada.

Na manhã de domingo, já depois de a equipa ter oportunidade de descansar um pouco num hotel local, tínhamos 200 mortalidades de cavalas. Se vou ser brutalmente sincero, não as lamentei profundamente, porque claramente que tinham sido carregadas bem mais do que as 900 necessárias, pelo que alguma perda de biomassa só melhorava a situação das restantes.

Mas essa não era a única má notícia, porque a única água disponível do Stéphane estava com uma salinidade de 12 partes por mil, ou 12 gramas por litro, o que é desastrosamente mais baixo do que os nossos 35, que é a salinidade normal da água do mar. À conta disso, não havia muito que o David pudesse fazer senão uma pequena mudança de água, na ordem dos 20 por cento, e rumar ao próximo cliente, Nausicaá, que tinha encomendado 100 plombetas açorianas, Trachinotus ovatus.

Eram apenas 650 quilómetros até Boulogne-sur-mer, localidade onde o Dominique e Florent esperavam pelo David, mas, estava eu a comprar uma Bandida do Pomar no Café da Mata, no Parque José Gomes Ferreira, quando entrou um whatsapp que me gelou – novamente – o sangue.

A Nina tinha combinado um play date entre o Nikola e o David, filho de um casal simpático que conheceu uns meses antes. E eu bem gostaria de ter aproveitado esses momentos para descontrair um pouco, mas era mais ou menos meio-dia quando o David comunicou que a temperatura da nossa Áudi – com 830 mil quilómetros e uma revisão feita propositadamente uns dias antes da viagem – estava nos 130 graus. “Mas estes tipos vão rebentar com o motor!!” pensei eu, já prestes a carregar no verde, quando a mensagem “Depósito do líquido da Audi acabou de rebentar. Mas estamos a resolver.” entrou, às 11:49. “Pelo menos não foi o motor”, pensei logo eu…

Seguiram-se as tradicionais horas de espera por um reboque e assistência em viagem que, à semelhança do que tinha acontecido na Alemanha, no dia 17 de março, também não foi grande coisa. Dir-se-ia que ter o carro empanado num domingo nunca é boa ideia, portanto evitem e tentei sempre espatifar os vossos automóveis de segunda a sexta, entre as 9 e as 6, ‘tá?

Entretanto o David já tinha despoletado o plano óbvio, que era mandar a Inês e Miguel seguirem o camião, que se dirigia a Nausicaá e nem se tinha apercebido do problema, enquanto o Reis se meteu num Uber e foi alugar um Peugeot na Sixt de Nantes, a 40 quilómetros de distância. Eu tentava manter conversa com o pai do amiguito do Nikola, o simpático Ricardo, que me falava de como está habituado a comer peixe de excelente qualidade na sua terra natal, Salvador. “A gente come muito Pirarucu na grelha. É uma dêlícia!”, mas admito que a minha mente só estava na Audi empanada e camião cheio de peixes enrascados, com dois jovens estudantes inexperientes a segui-los.

No meio disto tudo, e já em casa, perante a incompetência da assistência em viagem da OkTeleseguro, com quem ainda troquei palavras amargas, os três rapazes deixaram a Audi numa oficina algures em Le-temple-de-Bretagne, no meio do nada. Enviei ao David o texto em francês que deveria ser escrito num bilhete deixado junto à chave do carro, colocada na caixa do correio depois de assegurarem que a garagem tinha comentários recentes na web e não estava encerrada.

Eram nove da noite quando a Inês e Miguel chegaram, atrás do camião TIR carregado de bicheza. Não tardou muito até receber uma mensagem privada do Dominique, cliente das 100 plombetas, queixando-se que pelo menos metade teriam sucumbido à temperatura demasiado baixa no camião, uma medida que visava poupar as cavalas. “Fuck.” pensei eu. “Vamos ter de fazer uma nova viagem ao L’Ocearium du Croisic e também a Nausicaá para repôr estas perdas”. O lado positivo que isso ficaria a caminho da viagem de reposição à Polónia que já sabia ser necessária.

Duas horas depois o David, Ivan e Reis também chegavam a Nausicaá, no Peugeot alugado, e já se trocavam águas de todos os tanques com os deliciosamente frescos dez graus providenciados pela rapaziada local, que teve um belo serão de domingo. Antes de irmos todos descansar das aventuras do dia, ainda conversei com o David que, surpreendentemente, relatava apenas 20 perdas de cavalas e uma melhoria substancial da água no tanque 1, o que tinha mais cavalas e carapaus de todos. “Menos mau, menos mau!…” pensei eu com os meus botões, antes de accionar o despertador para as seis da manhã porque, na madrugada seguinte, o meu amigo Filipe Pereira vinha ter comigo e iríamos voar para Viena, onde os rapazes deveriam chegar na madrugada de terça-feira.

O plano original era rumar de Nausicaá ao Sea Life Speyer, depois Haus des Meeres em Viena, Tropicarium em Budapeste, e terminar a nossa tourneé no Aquário de Gdynia, na Polónia.

Mas esse plano viria a ter alterações significativas. Para melhor.

Segunda-feira, 15 abril

Acordei às 5:58, dois minutos antes do despertador. Ainda tirei uma soneca rápida no sofá da sala depois de o alterar para as 6:45. Tomei um duche rápido e desci para ir ter com Filipe, que chegou às 7:15, mesmo na hora marcada. Antes disso, porém, pois claro que fui atacado por novo ataque de nervos na casa de banho, enquanto pedia ao Dominique que orientasse oxigénio aos rapazes, que parecia ser a nova crise nessa manhã. Depois de boa água nos tanques, a falta de oxigénio afirmava-se como o grande papão do momento e o Dominique disse-me, por whatsapp, que tinha passado na loja a caminho do aquário e que a coisa se podia resolver, mas obrigava a um contrato de 3 ou 5 anos. Aceitei de imediato e acordámos que o João Reis iria lá, com o meu cartão Revolut na mão.

Carreguei o cartão Revolut com mais 5.000 euros, ficando com 10.000, já a caminho do aeroporto num Uber, depois de deixarmos o carro do Filipe na garagem dos meus pais. Dei luz verde ao Reis para gastar o que fosse necessário, enquanto o David já conduzia para Lille, de onde voaria para casa às 11:45, enquanto o Zé Pedro, que tinha aterrado em Lille na noite anterior, se juntava ao grupo.

Foi já no aeroporto, depois de intensidade nervosa para instalar a app da Ryanair mesmo antes do bag-drop, que li email do Arndt, do Sea Life Speyer, a próxima paragem da rapaziada e a sensivelmente 550 quilómetros de distância. Este amigo estava surpreendido com a nossa visita desse dia, porque as minhas mensagens tinham ido parar ao spam. Apesar da surpresa, confirmou que iria deixar uma tomada de 220 volts na rua, embora saísse do trabalho às 4 da tarde. Agradeci-lhe enquanto comia uma tosta mista com um cappuccino na tradicional confusão do terminal 2 e antes de ir novamente à casa de banho. Liguei-lhe já na rua, naquele curral onde nos metem antes de caminharmos para as aeronaves low-cost. Foi aí que lhe implorei por uma mudança de água quando o camião chegasse, aí pelas 8 da noite, e já me tinha oferecido para pagar o tempo extra ao aquarista que ficasse, mas não tive sorte.

Já dentro do avião, a situação do oxigénio parecia resolvida por 3.000 euros, mas o David enviou-me um áudio que me gelou (novamente) o sangue. O rapaz da loja ligou ao Dominique, de Nausicaá, mesmo antes de formalizar o contrato. Este confirmou que o contrato tinha a ‘benção’ do aquário Nausicaá e estava tudo confirmado, até o Mestre do Oxigénio perguntar se as garrafas iam sair do país e o Dominique responder afirmativamente. O contrato foi recusado de imediato e, apesar da insistência heróica do João Reis ao balcão, o tipo recusou-se a dar continuidade à conversa, porque não queria perder o emprego à pala do assunto. Convidou o Reis a retirar-se e ficámos assim. Sem oxigénio a meio da viagem.

Entretanto o Dominique enviou uma mensagem breve a dizer que estava numa reunião e, infelizmente, não podia fazer nada porque as garrafas têm localizador geográfico, o que me pareceu uma bela treta. As últimas mensagens que enviei, já com o avião a rolar para descolar, foram a partilha dos telefones do Arndt de Speyer, Daniel de Viena e Philippe Jouk de Antuérpia. Se os rapazes conseguissem assegurar oxigénio num destes três pontos, o camião poderia levar uma única garrafa emprestada pelo Dominique e seguir viagem até Speyer, o próximo destino.

Já com as rodas no ar, conversei com o Filipe, agoniado por dentro e sem saber se, ao aterrarmos em Viena três horas mais tarde, teríamos o camião já a rolar para Speyer, com oxigénio assegurado, ou se ainda estaria em Boulogne-sur-mer a tentar encontrar o dito gás salvador.

Assim que metemos as rodas no chão em Viena e liguei o telefone, tinha uma mensagem do David, e outra do Rui Guedes, ambos pedindo que lhes ligasse com urgência. Liguei primeiro ao David, que partilhou comigo um plano audacioso!

“E que tal…” dizia-me ele “…se formos já directos à Polónia, que é o cliente mais importante e que tem a inauguração do aquário no dia 19?”. Fiz umas contas de cabeça e respondi de imediato “Claro que sim, homem!” Vou já apanhar um comboio para Berlim!

Enquanto olhava para o mapa, já sentado num canto do aeroporto e com o portátil ao colo, vi que o Sea Life de Oberhausen estava a apenas 432 quilómetros de Boulogne-sur-mer, seguindo-se Berlim a 527 e Gdynia a 600! “Fuck! Estaremos em Gdynia amanhã à noite!!” pensei eu, pedindo ao Filipe que visse comboios para Berlim enquanto eu disparava telefonemas para Oberhausen e Berlim.

Não tardou muito até percebermos que o comboio para Berlim demoraria 8 horas e custaria cento e tal euros por cabeça, por isso larguei 399 euros no balcão da assistência aos viajantes e comprei dois bilhetes Eurowings para dali a 4 horas, cancelando de imediato – com a devida penalização – o hotel de Viena. Seguiram-se explicações ao Daniel Abed-Navandi, cliente austríaco que já tinha reservado um local onde iríamos jantar um belo Wiener Schnitzel.

Entretanto, já com duas pizzas salami e duas Colas Zero bem geladinhas à nossa frente, bem como o portátil ligado ao wifi do aeroporto de Viena, carburei oxigénio e uma tomada eléctrica em Oberhausen, oxigénio no Sea Life de Berlim, oxigénio, tomada eléctrica e muita água no ZooAquário de Berlim. Pelo caminho ficou o Sea Life de Hannover, que só tinham uma garrafa com dois litros de oxigénio e essencial para prestar assistência a mergulhadores em caso de acidente. “Isto está-se a compor, Filipinho!” proferi com entusiasmo moderado, pela primeira vez desde sexta-feira.

Aterrámos em Berlim às nove e meia da noite e, depois de 67 euros de Uber e largarmos as malas no Hotel Zoe, enchíamos novamente a pança com um belíssimo kebab – que se diz “kebap” em Berlim – que era o único sítio aberto àquela hora.

Entretanto o Zé Pedro estava com o Ivan e Reis a recolher o oxigénio de Oberhausen e estimava chegar ao ZooAquário de Berlim pelas 6 da manhã, que foi a hora que meti no despertador.

Terça-feira, 16 abril

Nessa noite dormi horrivelmente mal, como nas semanas anteriores, e tive até um sonho bizarro em que fazia promoção à Universidade do Algarve, mas ninguém me ligava nenhuma?… Enfim, Freudianices que devia ter anotado devidamente quando acordei e que já se perderam no limbo selvagem da minha mente.

O despertador tocou às 6 e um quarto da manhã e deparei-me com uma mensagem do Zé Pedro, também às 6:15, que dizia “Acabámos de chegar ao ZooAquário”! Wow! Não tardou muito até o Zé confirmar que já estava com o curador Marko e eu caminhava para o Sea Life Centre da cidade, a apenas 5 minutos de distância a pé, porque assim o planeei na tarde anterior, quando reservei o hotel berlinense no aeroporto de Viena. De garrafa de oxigénio emprestada no ombro do Filipe, aguardámos por um Uber que nos levou ao Zoo, onde nos reunimos com a rapaziada pelas 7 e meia.

Pois claro que o grande drama dessa manhã era alugar – ou comprar – mais oxigénio, e a fabulosa assistente do Marko atirou-se ao telefone da Bartel Berlim, enquanto eu ia respondendo (em inglês), às questões que alguém lhe perguntava do outro lado da linha (em alemão). Os rapazes da Bartel poderiam facilmente vender oxigénio, mas…

…tínhamos de providenciar transporte devidamente adequado e legal, sendo que o pequeno Peugeot francês alugado não daria conta do recado. Entretanto as carrinhas do Zoo estavam todas na rua, por isso a nervoseira ditou que perguntasse onde era a casa de banho. Esse pequeno intervalo foi providencial porque, quando regressei, já uma das carrinhas estava a regressar ao Zoo e, em menos de meia hora, estava eu nela, a caminho da Bartel, onde uma belíssima B50, com 50 litros de oxigénio a 200 bares, já esperava por nós. Quando puxei do cartão de crédito ainda pedi ao senhor (volumoso) da loja que me orientasse um adaptador para o regulador de oxigénio emprestado pelo Sea Life Centre, cujo curador, o simpático Martin Hansel, tinha sido nosso convidado para jantar apenas um mês antes, quando veio de férias a Portugal com a esposa. Ele há coisas!

Perante a facilidade do processo, pedi ao senhor Bartel “Zwei flaschen”, ou seja, duas garrafas, que carregámos na carrinha do Zoo pela módica quantia de 1200 e poucos euros. Nada mau! Ainda não era meio-dia quando finalmente regressámos ao hotel Zoe, para três horitas de sono, que foi o máximo que consegui estender o nosso late check-out, a troco de 35 euros por quarto. O Zé e Ivan puderam tomar um duche e descansar, enquanto o Reis já voava para Lisboa, em voo comprado menos de 24 horas antes.

Às três e pico enfardávamos Big Macs em frente ao Zoo, pouco antes de uma última mudança de água e ajuste de oxigénio e químicos, com todos os tanques a mostrarem-se consideravelmente mais estabilizados. Os amigos motoristas poderiam arrancar uma hora depois e tudo indicava que chegaríamos a Gdynia, destino da esmagadora maioria da bicharada do camião, pela uma da manhã.

Quarta-feira, 17 abril

Não era uma da manhã, mas sim duas, quando o belíssimo camião da TPO estacionou em frente ao aquário de Gdynia e demos início à aclimatação da água dos bichos com a água do aquário. Os parâmetros estavam idênticos, salvo uma diferença de três graus na temperatura, nós com 13 e o aquário com 16. Passados uns 30 minutos, enfiei as calças de borracha, sentindo de imediato o pé direito a ficar molhado, o que me irritou porque, numa operação de um quarto de um milhão de euros, dir-se-ia que não houvera 30 euros para comprar umas calças de borracha sem buracos, sendo que o buraco na perna direita já me era familiar de transportes anteriores. Adiante.

Depois de uma conversa, com alguma tensão, com o Marcin, curador, e o director do aquário, admiti que este transporte não tinha estado ao nível a que já habituáramos os clientes, nomeadamente estes mesmos amigos exactamente um mês antes. Expliquei que a dimensão exagerada das cavalas tinha tido como consequência um consumo de oxigénio tremendo e algumas perdas. Ao olharem para as ditas cavalas, o Marcin e chefe disseram imediatamente que seriam demasiado grandes para o seu tanque, ficando com apenas 250 das 500 encomendadas.

Essa notícia não era assim tão má, porque significaria que teria cavalas suficientes para Budapeste e Viena, embora significasse que teria de voltar a Gdynia para repor os animais em falta, mas esse cenário já se tinha tornado claro dias antes.

O sol já espreitava quando finalmente entregámos todas as raias, cações, galhudos, cavalas (acabaram por ficar com 300), pequenos bodiões e outros peixes. Entretanto ainda tive uma pequena irritação com a equipa do aquário, que ficou deslumbrada a olhar para os cações no tanque grande, enquanto eu e o Zé descarregávamos o resto do camião inteiro sozinhos, mas lá conseguimos cutucar a tropa e pô-los todos a mexer novamente.

O momento mais doloroso veio pelas 6 e tal, quando tive de sair do camião, em manga curta, para vestir uma sweatshirt e o casaco, sendo que deviam estar 2 ou 3 graus na rua e um vento geladíssimo.

Eram 7:12 quando me encostei na cama do hotel Gdynia Boutique, depois de ter feito check-in para mim, Filipe, Zé e Ivan, com uma segunda ida ao aquário, que ficava a 10 minutos de caminhada, para apanhar os motoristas Armando e Mário, que bem mereciam um duche e umas horas de sono. Combinámos arrancar pelas 11 da manhã, por isso coloquei o despertador para as 10:45, o que me dava 3 horas e 23 minutos de descanso. Menos mau.

Acordei às 9:17, logo seguido do Filipe, e descemos rapidamente para tomar um belo pequeno-almoço, que terminava às 10. Mas saíram-nos as contas ao contrário, porque o dito tinha de ser pré-encomendado. Passada a frustração, e fome, entrámos na primeira porta à esquerda do hotel, o café Kofeina, bem agradável e com uma onda indie que me agradou de imediato. Dois sumos de laranja naturais, umas belas sandocha com bacon, queijo e tomate, um canecão de café potentíssimo e, às 11 da manhã, já estávamos todos no lobby do hotel, prontos a seguir viagem.

Levei primeira a minha tropa e, a seguir, vim buscar o Armando e Mário. Entretanto pedi ao Filipe para reunir as perdas em sacos pretos, não sendo tantas como temia. Ao meio-dia e picos estávamos prontos a bombar os 1111 quilómetros que nos separavam de Budapeste, onde esperávamos chegar pelas 3 da manhã. Esse processo, contudo, sofreu logo o primeiro atraso porque alguém tinha trancado um pilarete que restringia o acesso à zona técnica do aquário. O dito pilarete tinha estado livre até então, mas algum funcionário zeloso trancou-o, connosco ainda lá dentro, por isso lá tive de andar à cata do segurança que nos foi libertar.

A primeira meia hora de viagem correu bem, mas depois levámos com um disparate de trânsito em cima, o que nos fez temer pelo sucesso da operação porque, uma vez arrancado este último percurso da viagem, o Armando e Mário só podiam conduzir 21 horas, ou seja, fizesse chuva ou fizesse sol, às 9 da manhã de quinta-feira, dia 18, tínhamos de estar em Viena porque, depois dessa hora, os motoristas não poderiam conduzir. O plano era, por isso, chegar a Budapeste pelas 4 da manhã, pisgarmo-nos de lá pelas 5 e chegarmos a Viena, a 270 quilómetros, pelas 8. Tínhamos uma hora de folga e já se sabe que estas viagens têm o condão de não respeitar horários, mas fomos comendo quilómetros polacos um a seguir ao outro.

Entre paragens rápidas para troca de condutores, compras de Red Bull e cajus, que são a base da minha alimentação nestas operações, e as necessárias monitorizações da qualidade de água, a viagem prosseguiu sem incidentes, com montes de oxigénio e pouquíssimos peixes nos tanques, o que nos permitia finalmente respirar de alívio, porque a qualidade da água estava de volta à limpidez magnífica a que estamos habituados. Pudera, com a imensidão de bicheza que deixámos em Gdynia (uns vivos, outros em sacos), pois claro que a carga levíssima até Budapeste e Viena permitia que a nossa filtração desse conta do recado sem dificuldade.

Tudo estava a rolar sem problemas, até perdermos o camião de vista após uma paragem para vigiar a água e comprar umas belas kilbasas quentinhas. O diabo é que, quando o Armando partilhou a posição, vimos que o Mário, ao volante, tinha saído da autoestrada que percorria o país de norte a sul. Irritados com as voltas e voltinhas que estávamos a dar para apanhar o camião, que seguia por estradas secundárias e pelo meio de vilarejos, só os apanhámos quando pararam numa maquineta, já na fronteira com a República Checa, para comprar uma vinheta que permitia circular nas autoestradas.

Quinta-feira, 18 abril

Depois de ajudar o Armando a comprar a dita vinheta para o camião, comprei uma para o Peugeot, mas tivemos de parar menos de uma hora à frente para repetir o processo na fronteira com a Eslováquia. A compra dessa segunda vignete foi mais complexa, porque a máquina pedia o código do ‘Obu’ e eu não fazia ideia do que era isso. Mas o Armando lá viu um escritório aberto, caso bizarro à uma da manhã, onde uma senhora deveras volumosa falava num tom agressivo eslovaco ao lado de uma Betty White de feitio ainda pior.

Perguntaram-nos, com muito maus modos, “Czech Republic or “Slovakia??” e respondi “Budapest”, pelo que me apontaram para a janela da senhora volumosa, o que deixou a Betty White mais tranquila.

O processo de aquisição da maquineta – o tal Obu, ou seja, uma Via Verde checa, mas para ligar ao isqueiro e do tamanho de um pacote de manteiga, grande – até foi fácil. O pior foi quando a senhora perguntou “Invoice?” e eu, estupidamente, fiz sinal que sim. Seguiram-se quinze minutos a disponibilizar documentos da TPO e do camião, enquanto eu amaldiçoava a maldita hora em que tinha tido a ideia brilhante de pedir factura. Uns vinte minutos depois lá saiu a factura, com não sei quantos anexos, e eu e o Armando acordámos logo que o camião deveria arrancar de imediato, enquanto eu tratava do caso para o Peugeot.

Despedimo-nos e, assim que coloquei os documentos em cima da mesa, a senhora olhou para mim zangada e perguntou “No truck??” ao que eu respondi “No. Small car” a apontar para o boneco no envelope da Sixt. Ela respondeu, zangada, “Internet” e deu-me um papelinho com um website, a que acedi já dentro do Peugeot e paguei a devida taxa de 12 euros, para não circularmos ilegais nos 50 ou 60 quilómetros que teríamos de estrada eslovaca.

Entretanto ia mantendo o Istvan Deres, do Tropicarium de Budapeste, a par do nosso progresso, e lá chegámos pelas 4 da manhã. As 250 cavalas acordadas (50 acima do plano original), uma uge, Dasyatis pastinaca, bem grande e 8 douradas, Sparus aurata, foram descarregadas enquanto o diabo esfrega um olho mas, desta vez, entrei para as calças de borracha descalço, para não molhar mais meias. Fool me once, shame on you. Fool me twice, shame on me.

Eram 5 da manhã quando peguei eu no volante e rumámos à Haus des Meeres, em Viena, com o GPS do Peugeot a dizer que chegaríamos lá às 7 e meia da manhã, o que era magnífico!! Acelerei pela autoestrada até encontrarmos o camião e seriam 8 e tal da manhã quando pedi ao Filipe para trocarmos, porque estava na hora de comprar os nossos bilhetes de regresso a casa, finalmente!

Por essa altura o grau de confiança no horário de chegada já era bem alto, por isso ainda namorei o voo TAP que saía de Viena às 2 e meia da tarde. Valeu-nos o bom senso do Filipe, que recomendou o Vueling das 4 e um quarto e ainda bem que comprei esses bilhetes, porque isso permitiu-nos ter uma bela almoceta com o Daniel, depois de lhe entregarmos o resto das cavalas, 333, em vez das 200 encomendadas. Entregámos ainda (quase) toda a bicheza pequena que o Daniel tinha pedido e, fazendo bem as contas, apesar das dores de cabeça nos primeiros dias do transporte, tínhamos fechado o malvado com chave de ouro e moral nos píncaros.

Isto, claro, depois de ajudar o Armando e o Mário a recuarem um camião TIR numa rua movimentada de Viena, porque estes amigos rumaram ao lado errado do aquário. Mas tudo se resolveu, como sempre.

Entretanto o André, nosso parceiro TechAquarium, e o Tomás, antigo aluno que nos ajudava pontualmente, juntaram-se a nós, depois de terem voado para Viena no dia anterior. O André e Tomás iriam conduzir o Peugeot até Nantes, para o devolverem, antes de pegarem na Audi que, de acordo com a oficina onde foi deixada, estaria pronta no dia seguinte, sexta-feira.

Apesar dos lugares separados nos dois voos de Viena para Barcelona e Barcelona para Lisboa, ainda pedi 4 gin-tónicos para a rapaziada, porque merecíamos um mimo, ainda que pequeno, pela estoicidade dos dias anteriores. Em jeito de apuramento final, o que comentámos foi: as bichas eram demasiado grandes e foi lamentável não nos termos apercebido disso em Olhão. Eu assumi o meu erro parolo em nem sequer ter deitado um olho aos peixes. Em minha defesa, a equipa tem trabalhado tão incrivelmente que deixei de me preocupar com esses detalhes há alguns anos. Desta vez, porém, arrependi-me amargamente.

Contudo, perante tamanhas adversidades, cabeça fria, bons raciocínios, colocar a prioridade absoluta no bem-estar dos animais e uma lista poderosíssima de contactos gerados ao longo de três décadas, para além de filtração fortíssima, disponibilizaram soluções para todos os problemas.

Eram umas nove da noite quando me despedi do Filipe e entrei em casa, depois de me despedir do Ivan e do Zé, no aeroporto. O Nikola estava ansioso pelos Legos que lhe disse ter comprado no aeroporto de Viena e eu só conseguia pensar no delicioso fim de semana que tinha pela frente, já com o transporte polaco pelas costas.

É certo que haveria um terceiro round, mas a pressão já não seria, nem por sombras, similar ao deste segundo.

* * * * * * *

Aproveito para agradecer ao grande Filipe Pereira as magníficas fotos desta operação!


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